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terça-feira, 7 de setembro de 2010

DEPENDÊNCIA QUÍMICA – ÉTICA E PREVENÇÃO

O Brasil de hoje caracteriza-se pelo aprofundamento das crises sociais decorrentes de uma política neoliberal cuja consequência maior é a miséria absoluta de boa parte da população, cujos indivíduos tem como profissão "ser desempregado". Somado a isto, a crise dos valores faz parte da sociedade na qual "quem não rouba e/ou trafica é bobo" e "quem rouba, mas faz", são introjetados e vistos como naturais por grande parte da população. E é esta sociedade da qual somos cúmplices, em que o Ter estar substituindo o Ser. A dependência química é uma doença física e emocional reconhecida pela Organização Mundial da Saúde e codificada no Código Internacional de Doenças sob o n° 304.8-2. Esta doença, além de ser incurável é progressiva e fatal, devido ao abuso de drogas que alteram o humor psíquico.
A humanidade sempre foi atraída pelas drogas, seja pelo uso medicinal, religioso ou recreativo. O álcool sempre esteve ligado à cultura judaico cristã, a cocaína à cultura andina, a maconha difundiu-se no mundo ocidental através dos negros, os nossos índios, além do tabaco tinham suas beberagens euforizantes, os gregos antigos utilizavam cogumelos alucinógenos, enfim, parece que sempre foi difícil manter a sobriedade ao tempo todo. 
A família, segundo o modelo tradicional, ainda é o núcleo básico da sociedade e que dá bases de sustentação e estruturação do ser humano. É nela que os valores básicos éticos e morais deveriam ser assimilados para que o indivíduo viesse conviver dentro das normas da sociedade em que está inserido. No final dos anos 1980 e início dos 1990 começou-se a falar de uma nova composição familiar dado aos novos tipos de casamentos ou associações conjugais. O crescimento dos divórcios veio estabelecer uma estrutura na qual os filhos passaram a conviver não só com os pais, mas namorados dos mesmos e seus filhos, outros irmãos nascidos destas relações, enfim foram criados novos parentescos que substituiu a família natural. A insegurança natural que precede a idade adulta e os questionamentos a ela inerentes, sempre fez parte da natureza humana, entretanto dada as condições sociais e familiares da sociedade atual os conflitos internos do adolescente acirraram-se cada vez mais. É na passagem da infância para a adolescência que o indivíduo começa a socializar seus problemas. O conflito entre não ser mais criança e nem adulto leva-o a buscar a segurança perdida. É o momento de estruturar sua identidade e afastar-se da família, buscando nos grupos valores para ser aceito. E é nesta busca incompreendida que maioria dos jovens conhece as drogas.
As famílias dos jovens dependentes são tão doentes quanto seus filhos. Ela é codependente. Enfim, além da doença familiar, existem outros dados que afetam o contexto no qual ela vive. A insegurança quanto ao desemprego, o medo a violência, valores éticos desfeitos, etc. Levando pais a superprotegerem seus filhos, ou a abandoná-los, substituindo o amor e atenção, por objetos de consumo que amenizem a culpa da não participação constante na vida dos filhos, devido a necessidade financeira, de até a mãe ter que trabalhar fora para o sustento da família.
Os problemas que advém do consumo de drogas dentro das escolas deve ser tratado de forma a encaminhar o jovem dependente não à polícia, que provavelmente o encaminhará para uma instituição de menor, mas de forma a propiciar o tratamento e futura reinserção do mesmo na sociedade. ferramentas educacionais podem ser construídas para facilitar ao adolescente mudanças de atitude, que o tornará mais confiante em suas escolhas, nos conhecimentos que possui passando a viver com maior responsabilidade. “A prevenção das drogas e o tratamento do usuário devem ser prioritários em relação a repressão ao uso.”
Diretores, equipes técnicas e professores desencantados, preferem fechar os olhos ao que acontece no interior da unidade escolar. Para eles a saída da crise deve vir do Estado e o Estado, por sua vez, aponta os professores e sua má formação como um dos maiores problemas a ser enfrentado na educação brasileira. A quem cabe educar e prevenir estes jovens e adolescentes contra o abuso de drogas, álcool, sexo sem preservativo, etc. ?
Diante disto, coloca-se que é dever da família educar seus filhos, depois a escola e finalmente o Estado. Uma política de prevenção de drogas e Aids nas escolas deve ter como prioridade a formação contínua dos professores e o envolvimento da família no esclarecimento das consequências do uso abusivo de drogas e como encaminhar seus filhos para um tratamento adequado.
São poucos os professores que tem as reais informações sobre as características de um usuário de drogas, e isto contribui para repressão e exclusão do mesmo do ambiente escolar. A repressão policial, utilizada em muitas escolas, em nada contribui para o equacionamento do problema; polícia aqui, ainda é sinônimo de repressão e em sua maioria não está preparada para atuar com crianças e jovens dentro da escola.
A escola precisa inserir-se no meio no qual está localizada, considerar suas peculiaridades e abrir espaços para que os jovens e adolescentes possam construir uma realidade melhor. As possibilidades criativas do adolescente são inúmeras, porém precisam ser canalizadas através de projetos pedagógicos conjuntos que favoreçam uma relação de confiança entre o professor e aluno. A prevenção parece ser a única saída, já que a luta contra o narcotráfico tornou-se inviável. Neste sentido a sociedade civil articulada pode criar mecanismos que atraiam os jovens para projetos no qual sintam-se participantes e construtores de uma sociedade mais justa e igualitária.
Existe, portanto, uma necessidade premente de valorizar a pessoa humana e a vida. Se a utilização e abuso de drogas está ligado ao prazer imediato faz-se necessário que possamos propor alternativas de formas saudáveis de prazer, valorizando o corpo físico e mental sem a autodestruição consequente. A abordagem repressiva ou a "pedagogia do terror" não tem surtido qualquer efeito junto aos jovens, por isto é importante que a educação resgate seu lado humanístico, não isolado da vida social. Valores éticos e morais como: respeito aos outro a si mesmo e ao meio ambiente, cidadania, cooperação, verdade, honestidade, disciplina, responsabilidade, justiça, etc. Também devem ser priorizados.
Reconhecemos o poder persuasivo das drogas, álcool e tabaco e suas consequências no corpo humano. Reconhecemos que as drogas agravam diversos problemas sociais como a criminalidade, violência, saúde, entre outros e custa à sociedade uma grande parcela de suas despesas.
A população em geral considera os dependentes químicos como pessoas fracas, sem caráter e não como uma doença. Porém, quando consideramos como uma doença, podemos olhar sob outra perspectiva, Nessa situação, a maioria das pessoas precisa de tratamento e de ajuda competente e adequada, já que a dependência é provocada por uma reação química no metabolismo do corpo. O álcool, embora a maioria das pessoas o separe das drogas ilegais, é uma droga tão ou mais poderosa em causar dependência em pessoas predispostas, quanto qualquer outra droga, a sensação de satisfação e um impulso psíquico provocado pelo uso da droga que faz com que o indivíduo a tome continuamente, para permanecer satisfeito e evitar mal estar. O papel de educador, sem dúvida vai muito além dos conteúdos programáticos que, devem levar aos alunos. Devemos lembrar, também, que em nossas filosofias consta ensinar, educar e preparar para a vida e neste sentido, o que estamos fazendo? O ser humano é produto de sua atividade em seu meio social que, em interação com “os outros”, realiza, transforma e muda o curso de sua história.
É preciso também entender esta questão da emoção, da afetividade, pois observa-se que nas escolas esta questão encontra-se ainda em um discurso com olhar pejorativo, como se fosse uma permissividade total, ou com olhar de “coitadinho” e não é nada disso. A afetividade está em abrir e estender o olhar, para dialogar, ensinar, aprender e viver com um ensino de qualidade e a autoridade necessária que inclui, não o autoritarismo que exclui e abre caminho para o mundo enganoso das drogas. 
As autoridades querem prestar contas à sociedade que desacredita em qualquer manifestação que tenha como objetivo atacar este problema de frente, com algumas ações policiais prendendo, matando traficantes. Afinal, quem ganha com o tráfico de drogas? Policiais, cargos eletivos como de deputados, senadores corruptos, empresários ligados à políticos são apontados pela mídia através das CPIs como responsáveis pelo aumento do tráfico no Brasil.
Para tratar um dependente é preciso tratar suas comorbidades psiquiátricas, é preciso medicação e psicoterapia, mas, sobretudo, é preciso uma atitude social e familiar de responsabilização do dependente pelo seu comportamento e pela sua decisão de se tratar. O paternalismo e a comiseração somente alimentam a doença. 
“A dependência química é um fenômeno psíquico, é um problema sério de saúde pública e seu combate não se confunde com o combate às drogas”
O art. 23, II da Constituição Federal diz que cabe à União, Estados e Municípios “cuidar da saúde” e, no art. 30,VII diz que cabe ao município, prestar serviços de atendimento à saúde da população,” ou seja, cabe aos três entes federativos cuidar da saúde, mas a prestação dos serviços, ficará a cargo dos Municípios, que o farão com apoio técnico e financeiro do Estado e da União.
O art. 227 da CF/88 reconheceu que o direito à saúde da criança e do adolescente deve ser tratado com absoluta prioridade e, em seu §3º, VII definiu que a proteção especial inclui “programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.”
Assim, o Município tem o dever legal de prestar este tipo de serviço para sua população, criando e mantendo, com a concorrência de verbas públicas federais e estaduais, uma instituição terapeuticamente adequada para tratar seus adolescentes em estado de risco social, em face da dependência química.
“Vejo a necessidade da comunidade cobrarem dos políticos ações voltadas ao atendimento e prevenção de dependência química, já que os mesmos não se manifestam, sendo os principais responsáveis pelo que estamos vendo, principalmente nos bairros periféricos; isso é que dar votar por votar.”
portela@contilnet.com.br